A psicóloga Léa Michaan, fala sobre autoestima, como ela é importante para vencer na vida e como encontrar o equilíbrio para não ser mal interpretado
Por Elliana Garcia
Independentmente de como ela esteja, alta ou baixa, o fato é que, todos nós temos autoestima. Mas qual a importância desse sentimento em nossa vida? Em entrevista ao Portal Arca Universal, a psicóloga Léa Michaan, (foto abaixo) graduada pela Universidade Mackenzie e pós-graduada em psicoterapia psicanalítica pela Universidade de São Paulo (USP), responde sobre esse tema tão próximo e ao mesmo tempo tão desconhecido. Ela enfatiza que a autoestima é a avaliação que fazemos de nós mesmos, como nos vemos e nos sentimos. “Quando não há amor próprio, toda a nossa energia fica presa, focada num só ponto, tentando compensar esta falta de amor por nós mesmos”.
O que é autoestima?
É a maneira que uma pessoa se sente em relação a si mesma. É a avaliação que ela faz dela mesma, como se vê e se sente, que pode ser negativa ou positiva.
Como age exteriormente uma pessoa que tem baixa autoestima?
Normalmente ela se vangloria e conta vantagens para encobrir algum sentimento negativo em relação a si mesma, ou ainda tenta diminuir o outro para sentir-se, enganosamente, superior. Esta é uma atitude desesperada para compensar o sentimento negativo que nutre por si mesma. Já quem tem a autoestima elevada conhece o seu valor e não perde energia para impressionar os outros.
Quais os sentimentos provocados pela baixa autoestima?
A baixa autoestima produz um sentimento de menos valia. Tal sentimento pode tomar dois rumos. Primeiro: muitas pessoas com baixa autoestima querem provar para elas e para o mundo que são capazes e lutam para ser bem-sucedidas. São pessoas inteligentes, mas que ao mesmo tempo sofrem, pois embora bem-sucedidas financeiramente, não encontram paz interior, e seus relacionamentos sociais são prejudicados pela necessidade de contar vantagem, de rebaixar o outro, sentir-se perseguida. O segundo rumo de uma pessoa com baixa autoestima é achar que não vale a pena investir em si mesma e nunca lutar para ir em frente. Ela se torna também tão carente que ou bajula, ou ataca os outros o tempo todo, torna-se uma pessoa insegura, e a baixa autoestima regulamenta todas as suas escolhas e atitudes.
O que desencadeia a baixa autoestima?
Este sentimento, em geral, se origina na infância e nas experiências infantis. Por exemplo, quando os pais não possuem o filho idealizado de suas fantasias, eles podem olhar para o filho e transmitir a frustração neste olhar. E o primeiro espelho de uma criança é o olhar de seus pais. A maneira como os pais enxergam este filho é como ele vai se encontrar e se reconhecer depois. Os pais são espelhos psicológicos dos filhos. A baixa autoestima começa no momento em que uma criança não pode ser aceita do jeito que ela é. Ela não pode ver-se a si mesma, só pode se ver através dos reflexos que produz nas outras pessoas, que podem ser os pais, professores, avós, tios e colegas. Mas outros fatores, em algumas situações no decorrer da vida, podem desencadear este sentimento.
Há pessoas predispostas, mas há aquelas também que só estão passando por uma fase. Nesse caso o que acontece para quem está com a autoestima baixa?
Em qualquer situação, quando não há amor próprio, toda a nossa energia fica presa, focada num só ponto, tentando compensar esta falta de amor por nós mesmos. Nossa criatividade não encontra uma mente disponível para emergir e nós perdemos tempo precioso de nossas vidas, porque em vez de criarmos e produzirmos, ficamos estagnados, tentando encontrar maneiras de fazer com que os outros nos aceitem e nos admirem para compensar o fato de nós mesmos não conseguirmos nos aceitar e admirar. E isto se torna uma bola de neve, pois quanto mais gastamos nosso tempo, ou nossa inteligência, tentando fazer com que o outro nos admire, menos nos aceitamos, gostamos e admiramos a nós mesmos, e como uma bola de neve a baixa autoestima aumenta cada vez mais.
Como elevar a autoestima?
Em primeiro lugar fazer uma autoanálise e entender que não é porque nossos pais não puderam nos aceitar do jeito que somos, ou porque alguém pensa de outra forma, que não temos valor. A melhor maneira de elevar a autoestima é perceber o que de fato gostaríamos de ser, como gostaríamos de pensar e agir. E para isso é preciso nos conhecer e ser coerente e coeso com aquilo que acreditamos. Mas esta tarefa é muito difícil, e para reverter a baixa autoestima e suas consequências muitas vezes é necessária a ajuda de um profissional.
Muitas vezes quem tem a autoestima elevada é visto de uma forma distorcida pela sociedade, que o encara como orgulhoso, ou que “se acha”. Como encontrar o meio termo para não ser mal interpretado?
Uma boa autoestima é uma coisa, um ego inflado, ou uma pessoa que “se acha”, é outra. Uma pessoa que tem autoestima elevada está em paz consigo mesma e não sente necessidade de se exibir, nem contar vantagens, muito pelo contrário. Percebemos que uma pessoa possui autoestima elevada justamente porque é criativa, acolhedora e amável com o outro. Alguém só pode ser amável, acolhedor e respeitador com outro, se é assim consigo mesmo. Uma pessoa que tem o ego inflado, em geral, possui uma autoestima baixa e sente necessidade de se exibir para compensar por meio da admiração alheia a falta de amor por si mesma. O caminho das pedras é não cair nem no sentimento arrogante da onipotência e nem na baixa autoestima pedante da impotência. O caminho a seguir é conhecer-se a si próprio, para entrar em contato com a sua precariedade e então poder evoluir.
Podemos dizer que a autoestima é uma junção de autoconfiança com amor próprio. Como equilibrar esses dois sentimentos?
O equilibro encontra-se na possibilidade da pessoa se perceber. Todos nós temos uma parte mais madura, que não fica tomada pelas emoções. No momento em que estamos nos vangloriando, sentindo-nos onipotentes, ou o oposto disso, quando nos subestimamos, sentimo-nos completamente impotentes e incapazes. Neste momento, e em todos os outros, é útil nos percebermos e nos enxergarmos por cima, de fora e através da percepção da realidade, mudar de atitude. Lembre-se de que autoconfiança deve ser baseada na realidade e não na fantasia. A pergunta que devemos fazer para nós mesmos é: “Será que não estou me subestimando ou sendo um tanto onipotente?” Para encontrar a resposta, faça o teste de realidade, conheça o problema a ser resolvido e vá conhecendo suas reais capacidades para lidar da melhor maneira com o problema, e lembre-se: todo problema tem alguma, ou algumas soluções. Assim, pouco a pouco, os recursos internos se ampliam, tal como os nossos músculos através de treinamento.
Já o amor próprio, é a maneira de agir consigo mesmo, análogo a forma de agir com os outros. Quando amo alguém, faço tudo em prol daquela pessoa, então, se tenho amor próprio, faço o melhor para o meu desenvolvimento e, claro, não permito que os outros “pisem” em mim, me humilhem ou desrespeitem, e isto é algo natural. Quando temos amor próprio – que é diferente de arrogância –, automaticamente não inspiramos o outro a nos desrespeitar.
Algo que queira acrescentar?
É bom lembrar que durante a nossa vida encontramos diversas pessoas, algumas são arrogantes, outras exibicionistas, outras nos bajulam, outras não nos aceitam do jeito que somos, outras nos admiram, outras nos diminuem, algumas sentem necessidade de nos esnobar, e por ai vai. O principal é se conhecer e não se deixar levar pela imagem que os outros têm de nós. E sempre tentar aprender com a experiência. Usar a capacidade de pensar e refletir e se perguntar: porque inspiro tal conduta da outra pessoa em relação a mim? Será que é uma questão dela ou minha? Até que ponto agi para ser desrespeitado, ou humilhado, ou tão admirado? E não se deixar levar como o “vento”. Não acreditar que você é exatamente da maneira que se enxerga no olhar do outro. Ter firmeza de personalidade e poder levar a opinião alheia em consideração para o próprio desenvolvimento é sinal de uma autoestima positiva e também uma maneira para melhorar a autoestima que porventura estiver em baixa.
Fonte: Arca Universal
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